domingo, 24 de outubro de 2010

A Pequena Vendedora de Fósforos

"Era véspera de Natal. Fazia um frio intenso; já estava escurecendo e caía neve. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite, que caía rapidamente, uma criança, uma menina descalça e de cabeça descoberta, vagava pelas ruas. Ela estava calçada quando saiu de casa, mas os chinelos eram muito grandes, pois eram os que a mãe usara, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados quando atravessava correndo uma ..."

de Hans Christian Andersen



É um filme comovente que nos faz reflectir sobre questões importantes como: o abandono, a miséria, a fome, a indiferença, a exclusão...

sábado, 23 de outubro de 2010

Para pais (com filhos no Jardim de Infância) e Educadores de Infância

1. Proibido insultar o Jardim‐de‐Infância chamando‐lhe “escolinha”. Em primeiro lugar, porque é uma
escola, em segundo, porque todas as escolas ganhavam se ligassem Brincar com aprender.

2. É proibido que os pais imaginem que o Jardim‐de‐Infância serve para aprender a ler e contar. Ele é útil
para aprender a descobrir os sentimentos. Para aprender a imaginar e a fantasiar. Para aprender com o
corpo, com a música e com a pintura. E para brincar. Uma criança que não brinque deve preocupar mais
os pais do que se ela fizer uma ou outra birra, pela manhã ao chegar.

3. O Jardim‐de‐Infância assusta as crianças sempre que os pais ‐ como quem sossega nelas os medos
deles por mais um dia de jardim‐de‐infância ‐ lhes repetem: ” Hoje vai correr tudo bem!”

4. Os pais estão proibidos de despedir‐se muitas vezes das crianças, ao chegarem todos os dias. E é bom
que se decidam: ou ficam contentes por elas correrem para os amigos ou ficam contentes por elas se
agarrarem ao pescoço deles, com se estivessem prestes a ser abandonadas para sempre.

5. É proibido que as crianças vão dia‐sim dia‐não ao Jardim‐de‐Infância. E que vão, simplesmente,
quando os seus caprichos infantis vão de férias. E que não vão ” só porque sim”. O Jardim‐de‐Infância
não é um trabalho para os mais pequenos. É uma bela oportunidade para os pais não se esquecerem
que se pode amar o conhecimento, namorar com a vida, nunca ser feliz sozinho e brincar, ao mesmo
tempo.

6. No Jardim‐de‐infância não é obrigatório comer até à última colher; nem dormir todos os dias. E não é
nada mau que uma criança se baralhe e chame pai/mãe ao educador/a (ou vice‐versa).

7. Os pais estão obrigados a estar a horas quando se trata duma criança regressar a casa. Prometer e
faltar devia dar direito a que os pais fossem sujeitos classificados como tendo necessidades educativas
especiais.

8. Os pais não podem exigir aos filhos relatórios de cada dia de jardim‐de‐infância. Mas estão
autorizados a ficar preocupados se as crianças forem ficando mais resmungonas, mais tristonhas ou, até,
mais aflitas, sempre que regressam de lá. E estão, ainda, autorizados a proibir que o jardim‐de‐infância
só se abra para eles durante as festas.

9. O Jardim‐de‐Infância é uma escola de pais. E um lugar onde os educadores são educados pelas
crianças. Um lugar onde todos se educam uns aos outros não é uma escola como as outras. É um
Jardim‐de‐Infância.

10. Um dia, num mundo mais amigo das crianças, todas as escolas serão Jardins‐de‐Infância!
Por Eduardo Sá (Psicólogo)

Nota: Eduardo Sá é psicólogo clínico, psicanalista e professor de psicologia clínica

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os patos preferem a escola


O TEMPO em que os animais falavam, os bichos constataram que o meio em que viviam começava a tornar-se cada vez mais complexo e havia que impor novas hierarquias, estabelecer novos parâmetros de comportamento, uma vez que já não chegavam os seus instintos inatos para enfrentar as modificações do meio. Esta necessidade deu lugar à ideia de ESCOLA: uma estrutura social, que os habilitaria, A TODOS, para enfrentar as crescentes modificações a que assistiam. Foram escolhidos os melhores animais para a docência, isto é, os reconhecidos como mais experientes, alta profissionalização nos seus domínios específicos, grandes títulos em competições. O reconhecimento destas qualificações envaideceu-os, naturalmente, e a maioria esqueceu, desde logo a razão por que estava ali. Com muitas reuniões gerais de professores, muitas reuniões de grupo, reuniões de conselho pedagógico, de departamento, de secções, reuniões de conselho executivo, etc… escolheram o seguinte currículo: Nadar, Correr, Voar, Galpar montes e saltar obstáculos.
Os primeiros alunos foram o Cisne, o Pato, o Coelho e o Gato.
Começadas as aulas, cada professor, altamente preocupado com a sua disciplina, preparava primorosamente a matéria, dava sem perder tempo, procurando cumprir o programa e a planificação do mesmo. Faziam, assim jus aos seus títulos e competências. Mas os alunos iam-se desencantando com a tão sonhada escola. Vejam o caso particular de cada aluno:
- O Cisne, nas aulas de correr, voar e galpar montes era um péssimo aluno. E mesmo quando se esforçava, ao ponto de ficar com as patas ensanguentadas das corridas e calos nas asas, adquiridos na ânsia de voar, tinha notas más. O pior era que, com o esforço e desgaste psicológico despendido nessas disciplinas, estava a enfraquecer na natação, em que era o máximo.
- O Coelho, por sua vez padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar se não tinha asas? Em se tratando de nadar, a coisa também não era fácil não tinha nascido para aquilo. Em contrapartida, ninguém melhor do que ele, corria e galpava montes.
- O Gato tinha problemas idênticos ao do coelho, nas disciplinas de natação e voo. Ele bem insistia com o professor que, se o deixasse voar de cima para baixo, ainda poderia ter êxito. Só que o professor não aceitava essa ideia louca: não estava contemplada no programa aprovado e o critério de selecção era igual para todos.
- O pato, finalmente, voava um pouquinho, corria mais ou menos, nadava bem mas muito pior do que o cisne, e desastradamente, embora com algum desembaraço, até conseguia subir montes e saltar obstáculos. Não tinha reprovações a nenhuma disciplina, como os seus restantes colegas o que fazia sumamente brilhante nas pautas finais. Os professores consideraram-no o aluno mais equilibrado, deram-lhe a possibilidade de prosseguir estudos e, com tantos “atributos”, até fomentaram nele a esperança de um dia, poder vir a ser professor.
Os restantes alunos estavam inconformados. Nada tinham contra o pato, gostavam dele, compreendiam o seu grau mínimo de suficiência a todas as disciplinas, mas, perguntavam-se: a espantosa capacidade do Coelho em saltar obstáculos, correr e galpar montes não poderia ser aproveitada para enfrentar as tais novas situações sociais, que os levaram a ter a ideia de ESCOLA? E o Gato? De nada lhe serviria correr e saltar melhor do que o pato? E que utilidade teria, para o cisne, nadar como nenhum outro? –Cada um tinha, de facto, a sua queixa justificada. Escola, pensavam eles era o local onde aperfeiçoariam as capacidades que tinham, de modo a po-las ao serviço da sociedade. Se as coisas já estavam difíceis, que fazer agora com a tremenda frustração de não servirem para nada? Foram falar com os professores. As limitações de cada um eram um facto, eles sabiam que jamais seriam polivalentes, de modo a terem grandes escolhas. Contudo, se reprovassem no ano seguinte estariam exactamente na mesma situação.
Os professores lamentaram muito. Havia um programa, superiormente estabelecido e a questão era só esta: Ninguém tinha média igual ao do pato e, por isso, na sua mediocridade, ele era, estatisticamente superior a todos.
Os outros alunos abandonaram a escola. Desde então por razões óbvias a escola atrai mais os patos e, na sociedade são eles que dominam.


Fernanda Torrinha e Dulce Bento
In: Noesis, nº20, Setembro de 91

Um lobo diferente...


UM LOBO COM BOM CORAÇÃO

"Havia na floresta
Um lobo com bom coração;
Comovia-se facilmente
Apesar de comilão.
Era um grande problema
Sempre que queria comer.
As lamentações das presas
Faziam-no esmorecer.
Um dia,
Cruzou-se com um coelho,
Que rapidamente agarrou.
Mas, ao ver que tinha filhos,
De imediato o largou.
Percorreu mais uns metrinhos
E um esquilo viu passar.
Era pequeno, é certo
Mas dava para a fome matar.
Foi atrás devagarinho,
De nada adiantou.
Porque o pobre, coitadinho,
Ao vê-lo implorou:
-Sou um esquilo indefeso,
Não chego para te alimentar.
Para ficares bem saciado,
Muitos esquilos tens de matar...
-Tens razão pequeno esquilo!
Não davas para a cova de um dente...
E o esquilo lá escapou,
A dar pulos de contente.
De repente ouviu barulho,
E pôs-se de imediato alerta;
Desta vez foi enganado,
Por uma raposa muito esperta...
-Como estás, querido amigo?
Nem sabes o que me aconteceu...
Meu irmão corre perigo,
Por causa de uma cobra que o mordeu...
Não posso perder mais tempo,
Porque ele está muito mal...
Amigo, até à próxima,
Vou a caminho do hospital.
E mais uma vez o lobo,
Ficou sem refeição.
Tudo por dar ouvidos,
Ao seu grande coração.
Mais à frente reparou,
Numa bonita casinha.
Bateu à porta e entrou
E viu na cama uma avozinha.
-Estou tão doente netinha!
Lamentou-se a pobre avó.
-Por favor faz-me companhia,
Não me deixes ficar só!
Já não sirvo para nada,
Nem faço mal a ninguém!
Sinto-me fraca e entrevada,
E o meu ultimo desejo é ver tua mãe!
O lobo, lavado em lágrimas,
Com um quadro tão real.
Afastou-se mais uma vez,
Sem coragem para fazer mal.
Ao longe e no meio das árvores,
Viu uma sombra amarela.
E logo se apercebeu,
Tratar-se de uma apetitosa gazela.
-Ai, meu deus
Que me aconteceu...
O meu único e querido filho.
Foi brincar para o bosque e desapareceu....
Sou uma mãe infeliz,
Ajude-me lobo amigo!
Que o meu pequeno e indefeso filho,
Corre, concerteza perigo.
O lobo não ajudou
Mas mandou-a desaparecer.
Pois a fome apertava,
E era difícil sobreviver.
Desesperado e cansado
Sem saber o que fazer.
Três porquinhos encontrou,
Junto ao lago, a beber.
-Ora cá está!pensou ele.
Um bom e merecido Jantar.
Para o almoço de amanha guardo um,
E agora vou lanchar.
Os porquinhos, muito tristes,
Como quem perde alguém.
Pediram um ultimo desejo:
Despedirem-se da mãe.
Tocaram uma linda canção,
Que o comoveu fortemente.
E o seu pobre coração,
Não resistiu novamente.
Já em estado de fraqueza,
Munido de um mau estar constante,
À janela de uma grande casa
Viu um enorme gigante.
Com violência à porta bateu,
E o gigante para o amedrontar;
Mostrou-lhe criancinhas presas,
Destinadas a matar...
Assim, mereceu a revolta do lobo,
Que o devorou num instante.
Libertando as criancinhas,
Do grande a malvado gigante.
O lobo ficou saciado,
E deitou-se a descansar.
Até que a fome aperte de novo,
E contra o seu coração, tenha quer lutar."


Elvira Pereira, Edições Nova Gaia, 2002

Trabalho de Grupo : "Ensinar é Investigar"

Este trabalho de grupo foi realizado para a disciplina de Metodologia Didáctica Geral e Especifica, a exposição neste blog tem o consentimento de todos os elementos do grupo.

O tema do trabalho foi baseado no modelo "Ensinar é Investigar". Este modelo foi construído para o Ensino Básico, mas a sua estrutura pode e deve aplicar-se a todos os níveis de ensino, mantendo os princípios orientadores, a metodologia e alterar os programas a desenvolver em qualquer nível de ensino ou até no trabalho ou vida do quotidiano.

Apenas a brincar


Quando me virem a montar blocos
A construir casas, prédios, cidades
Não digam que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender sobre o equilíbrio e as formas
Um dia, posso vir a ser engenheiro ou arquitecto.

Quando me virem a fantasiar
A fazer comidinha, a cuidar das bonecas
Não pensem que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender a cuidar de mim e dos outros
Um dia, posso vir a ser mãe ou pai.


Quando me virem coberto de tinta
Ou a pintar, ou a esculpir e a moldar barro
Não digam que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender a expressar-me e a criar
Um dia, posso vir a ser artista ou inventor.

Quando me virem sentado
A ler para uma plateia imaginária
Não riam e achem que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender a comunicar e a interpretar
Um dia, posso vir a ser professor ou actor.

Quando me virem à procura de insectos no mato
Ou a encher os meus bolsos com bugigangas
Não achem que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender a prestar atenção e a explorar
Um dia, posso vir a ser cientista.

Quando me virem mergulhado num puzzle
Ou nalgum jogo da escola
Não pensem que perco tempo a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender a resolver problemas e a concentrar-me
Um dia posso vir a ser empresário.

Quando me virem a cozinhar e a provar comida
Não achem, porque estou a gostar, que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender a seguir as instruções e a descobrir as diferenças
Um dia, posso vir a ser Chefe.

Quando me virem a pular, a saltar a correr e a movimentar-me
Não digam que estou só a brincar
Porque a brincar, estou a aprender
A aprender como funciona o meu corpo
Um dia posso vir a ser médico, enfermeiro ou atleta.

Quando me perguntarem o que fiz hoje na escola
E eu disser que brinquei
Não me entendam mal
Porque a brincar, estou a aprender.
A aprender a trabalhar com prazer e eficiência
Estou a preparar-me para o futuro.

Hoje, sou criança e o meu trabalho é brincar.

Anita Wadley


O brincar era desvalorizado e sem valor a nível educativo. Com o evoluir dos tempos, tem havido uma mudança na forma como se percepciona o brincar, e a sua importância no processo de desenvolvimento duma criança.
Actualmente, verifica-se uma maior preocupação com a formação das crianças: tanto pais, como educadores, procuram a melhor forma de as tornarem responsáveis, equilibradas, etc, contudo, não é raro esquecerem-se que o brincar pode ser uma "ferramenta", por excelência, para que a criança desenvolva essas qualidades.
O brincar é a forma mais completa que a criança tem de comunicar consigo mesma e com o mundo.
É a brincar que aprende o que mais ninguém lhe pode ensinar. É dessa forma que ela se estrutura e conhece a realidade. Está a conhecer o mundo e está a conhecer-se a si mesma.
É através da actividade lúdica que a criança se prepara para a vida.
O lúdico conduz à imaginação, fantasia, criatividade e à aquisição dum sentido crítico.

domingo, 17 de outubro de 2010

Ser Educador é...


Este poema traduz o que é ser Educador de Infância.

"Ser educador é pintar o mundo de todas as cores
É poder fazer sorrir as crianças
É vê-las crescer...
É ajudá-las a aprender.
Ser educador é profissão de amor
E deixar em cada criança
A lembrança de um mundo melhor.
Ser educador é ser poeta
É ser pintor,
É ser palhaço,
É ser actor.
Ser educador é ser criança
É ser adulto
É ter esperança.
Ser Educador é...
Ser transmissor de verdades,
De inverdades...
Ser cultivador de amor,
De amizades.
Ser convicto de acertos,
De erros.
Ser construtor de seres,
De vidas.
Ser edificador.
Movido por impulsos, por razão, por emoção.
De sentimentos profundos,
Que carrega no peito o orgulho de educar.
Que armazena o conhecer,
Que guarda no coração, o pesar
De valores essenciais
Para a felicidade dos “seus”.
Ser conquistador de almas.
Ser lutador,
Que enfrenta agruras,
Mas prossegue, vai adiante realizando sonhos,
Procurando se auto-realizar,
Atingir a sua plenitude humana.
Possuidor de potencialidades.
Da fraqueza, sempre surge a força
Fazendo-o guerreiro.
Ser de incalculável sabedoria,
Pois “o valor da sabedoria é melhor que o de rubis”.
É...Esse é o valor de ser educador.
Por fim o educador deve ser...
Criativo como Picasso
Poliglota
Rápido como um relâmpago
De uma resistência a qualquer prova
Alegre,
Terno como um pintainho
Engenhoco como um Estrumpfe
Além disso, deve ter...
Uma memória de elefante
Uma paciência de anjo
Resistência a qualquer prova
Olhos à volta da cabeça
Um filtro nasal
Resposta automática integrado
Um microfone incorporado
Umas costas largas
Orelhas biónicas com controlo de intensidade
Oito braços como um polvo
Um coração como Phil Latulippe
Dedos de fada
Pernas de atleta
Uma bexiga de cinco litros
Um sistema imunitário revolucionário
Uma mulher orquestra!
UMA SUPER MULHER (na sua maioria)

Aprendi no Jardim de Infância

Partilho este texto pela mensagem escrita simples e assertiva.

sábado, 16 de outubro de 2010

"A Maior Flor do Mundo" de José Saramago



Este filme foi abordado e trabalhado na disciplina de Atelier de Língua Portuguesa.
Inspirado na obra "A Maior Flor do Mundo", de José Saramago, Juan Pablo Etcheberry realizou esta curta metragem.
Neste filme de animação, José Saramago aparece como narrador e personagem. No final do filme, José Saramago lança um desafio.
Este filme também foi bem aceite, pelas crianças do Jardim de Infância onde trabalho, que o visionaram com muita atenção. Foi uma proposta para as crianças reinventarem outras histórias e realizarem actividades relacionadas com este tema.